A repetição de uma palavra no início de um verso e no início do seguinte é chamada de anáfora.
Exemplo:
“É preciso casar João
é preciso suportar Antônio,
é preciso odiar Melquíades,
é preciso substituir nós todos”
(“Poema da Necessidade”, Carlos Drummond Andrade)
E porque fez tanta coisa ou nada fez
Ou não multiplicou pães pra toda gente
Ou porque não tinha trinta e um dinheiros
Ou porque não havia vinho suficiente.
(De um Evangelho de Um Cristo, Ricardo Lopes)
A repetição de uma palavra no final de dois ou mais versos consecutivos chama-se epístrofe ou epífora.
“Não sou nada
Nunca serei nada
Não posso querer ser nada
Á parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”
(Poema de Tabacaria, Álvaro de Campos)
Reduplicação é a repetição de uma mesma palavra ou expressão duas vezes seguidas no mesmo verso.
“Não, não quero nada
Já disse que não quero nada”
(Lisbon Revisited, Álvaro de Campos)
O exemplo acima possui uma reduplicação e uma epífora ou epístrofe.
Já a repetição de uma palavra no início e no final deste mesmo verso é chamada de epanadiplose
“Nada me prende a nada
Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo”
(Lisbon Revisited, Álvaro de Campos)
“Não vim trazer a paz na Terra, vim
trazer espada, vim trazer a guerra”.
(De O Evangelho de um Cristo, Ricardo Lopes)
E a repetição no final de um verso e no início do seguinte é chamada de anadiplose.
Transformou àgua em vinho,
Vinho em vinagre”.
(Do Evangelho de um Cristo, Ricardo Lopes)
Observe como seria diferente se o poema acima, ao invés de se apresentar desta forma fosse escrito do modo abaixo:
“Transformou água em vinho
e este em vinagre”.
Ou, ainda, desta outra forma.
“Transformou água em vinho
e este último em vinagre”.
No entanto, como já dissemos, pouco importa o nome de tais repetições. O importante é saber de sua existência e como elas podem ser aplicadas.
Exercício
Escolha algumas formas de repetição. Procure construir um ou mais poemas com estas repetições
Exemplo:
Para não perder o hábito, uso, novamente, da expressão tão comum que é “eu te amo”.
1º exercício
Se eu te amo
Se eu te amo ? Eu ?
Se eu te amo ?
Eu ? Eu
não.
2º exercício
Eu não te amo
Eu não te amo. Não
Amo a ninguém. Não
Amo. Amo não Eu
Não amo nem eu não.
Amo não.
Tais exercícios não são necessamente poemas, mas exercícios. Servem para treinar a técnica, aprendendo a controlá-la, de modo poder utilizá-la quando necessário.
O importante é estar treinado de modo a que, quando nós quisermos escrever algo, possamos utilizá-las. Ou que as tenhamos de tal maneira apreendidas, de tal modo, que elas venham “naturalmente”.
Ricardo Lopes é professor, poeta e dramaturgo
Para um atendimento particular sobre a prática poética, entre em contato pelo telefone (Rio de Janeiro/Brasil) 0 21 22011212 / 021 94082693
e-mail riclopp@ig.com.br
EXCELENTE,GOSTEI E SUPEREI AS DUVIDAS TODAS
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