O ritmo é uma das principais características da poesia, a ponto de alguns autores, como, por exemplo, Otávio Paz, acreditarem que este se trata do principal diferencial entre prosa e poesia.
Todo poema apresenta um ritmo que o distinguirá de um outro texto que não seja poético.
O ritmo nasce, intencionalmente ou não, no plano sonoro da linguagem, com da combinação entre sílabas tônicas e átonas e outros efeitos sonoros, considerando as pausas.
Há sempre uma íntima relação entre o ritmo de um poema e o que ele quer dizer, ou efetivamente diz. Desse modo, toda análise poética deve considerar tantos os aspectos verbais e relativos ao significado das palavras quanto os aspestos sonoros destas últimas.
Um dos primeiros aspectos do ritmo é a metrificação, que é a contagem das sílabas de um verso, e a combinação de versos com metros iguais ou diferentes, conforme o caso.
Contam-se as sílabas de um verso da mesma forma que se contam as sílabas de uma palavra, só que se para a contagem na última sílaba tônica de cada verso.
O mais importante é sentir o ritmo de modo a fazer com que o som e a musicalidade do poema este de acordo com aquilo que o autor diz no poema.
Veja como o ritmo funciona em um poema como “A Valsa”, de Casimiro de Abreu.
Tu ontem,
Na dança,
Que cansa
Voavas co´as faces
Em rosas
Formosas
De um vivo
Lascivo
Carmim.
Os versos são de duas sílabas, com exceão do 4º verso, parecendo com o ritmo da valsa, de três tempos, já que, na contagem de sílabas poéticas, não se contam as sílabas após a última silaba tônica. Desse modo, o ritomo de adequa ao tema do poema.
Antes de nos apronfundarmos na análise do ritmo na poesia, procure realizar o exercício abaixo:
Exercício
Escolha um verso, criado por você ou retirado de um poema de um outro autor. Em seguida, procure alterar o ritmo deste verso, dando ao mesmo um outro sentido ou significado. Seja com a repetição deste mesmo verso ou com o acréscimo ou a supressão de alguma de suas palavras.
Exemplo:
Verso: No meio do caminho tinha uma pedra (do poema “No meio do caminho”, de Carlos Drummond de Andrade).
No meio do caminho tinha uma pedra
No meio
Uma pedra
Caminho
no meio.
Caminho.
Caminho,
uma pedra,
Uma pedra,
Uma pedra.
Tinha
Um caminho.
Ricardo Lopes é poeta, escritor e professor. Autor da peça "Mãe ou o antiédio" premiada em 2o. lugar no Concurso Carlos Carvalho da prefeitura de Porto Alegre, no ano de 2001.
Não deixe de postar o seu poema, exercício uma perguta (que será respondida ) e de indicar este bolg a quem possa se interessar pelo mesmo.
este blog se destina a publicar poesias e a dar dicas para quem deseja ler e escrever poesias
quarta-feira, 22 de junho de 2011
terça-feira, 14 de junho de 2011
Enumeração, Acumulação, Ampliação e Enumeração Caótica
Nesta postagem, vou abordar as figuras da enumeração, acumulação, ampliação e enumeração caótica. Todas juntas, porque elas são muito semelhantes entre si, além de estarem relacioandas.
Enumeração
Chama-se enumeração a menção a de determinados termos ou qualidades, características, etc., de alguma coisa.
Por exemplo:
Um discípulo
Jesus,
podia dar-me um conselho?
Jesus
Dois até.
Discípulo
Então me diga:
Qual o é
o caminho,
estrada,
teologia,
atalho,
filosofia,
religião
ou seita
que eu devo seguir?
(Do Envangelho de Cristo, de Ricardo Lopes)
Acumulação
Já a acumulação é uma enumeração que se acumula. Isso é o que se dá no próprio poema acima, quando o discípulo continua a enumerar o que ele deseja saber de Jesus Cristo.
Discípulo
Como devo viver?
Sob qual o princípio
ou fim...
Com que meio?
Bíblia,
livro,
dália,
manual,
caderno...
Com que roupa
ou coisa que o valha
que eu devo pregar?
Como é que é que se reza
ou ora?
Ampliação
Quanto a ampliação é uma enumeração que se acumula, geralmente ampliando as características de cada um destes termos.
Enumeração Caótica
Por fim, a enumeração caótica, é uma enumeração cujos termos não possuem nenhuma relação entre si, sendo até mesmo díspares.
No poema que citamos acima, há quase que uma enumeração caótica, na medida em que o que cada coisa que é enumerada, em alguns casos, não possui uma relação para com as outras.
Discípulo
Como posso curar
com o dedo?
Fazer ressuscitar,
sumir?
Como se predizer
futuro,
advinhar passado
ou número de dado?
Jesus
Todo número é um.
Discípulo
Jesus, me ensina a ler
mãos,
búzios,
baralho,
olhos,
tarôt,
cristal,
oráculo
ou bula de remédio?
Jesus, me cura o tédio ?!
Como fazer milagre,
magia,
prestidigitação.
Andar sobre o mar
ou sobre o chão,
voar...
Aprender a somar,
montar equação.
E multiplicar pão
e peixes,
paus,
moedas...
Ah! Como saber ler pedras...?
Ricardo Lopes é professor, poeta e dramaturgo. Premiado com a peça “Mãe ou o antiédipo” no Concurso de Dramaturgia CarlosCarvalho, da Secretaria de Cultura da Preefeitura de Porto Alegre no ano de 2001.
Não deixe se postar o seu exercício ou poema para que eu o analise ou comente.
Não deixe também de indicar este blog a quem possa se interessar por ele.
Na próxima postagem realizarei um comentário sobre o exercício que desenvolvi acima.
Para um atendimento individual, entre em contato telefone (Rio de Janeiro/Brasil) 0 21 22011212 / 0 21 94082693
e-mail riclopp@ig.com.br
Enumeração
Chama-se enumeração a menção a de determinados termos ou qualidades, características, etc., de alguma coisa.
Por exemplo:
Um discípulo
Jesus,
podia dar-me um conselho?
Jesus
Dois até.
Discípulo
Então me diga:
Qual o é
o caminho,
estrada,
teologia,
atalho,
filosofia,
religião
ou seita
que eu devo seguir?
(Do Envangelho de Cristo, de Ricardo Lopes)
Acumulação
Já a acumulação é uma enumeração que se acumula. Isso é o que se dá no próprio poema acima, quando o discípulo continua a enumerar o que ele deseja saber de Jesus Cristo.
Discípulo
Como devo viver?
Sob qual o princípio
ou fim...
Com que meio?
Bíblia,
livro,
dália,
manual,
caderno...
Com que roupa
ou coisa que o valha
que eu devo pregar?
Como é que é que se reza
ou ora?
Ampliação
Quanto a ampliação é uma enumeração que se acumula, geralmente ampliando as características de cada um destes termos.
Enumeração Caótica
Por fim, a enumeração caótica, é uma enumeração cujos termos não possuem nenhuma relação entre si, sendo até mesmo díspares.
No poema que citamos acima, há quase que uma enumeração caótica, na medida em que o que cada coisa que é enumerada, em alguns casos, não possui uma relação para com as outras.
Discípulo
Como posso curar
com o dedo?
Fazer ressuscitar,
sumir?
Como se predizer
futuro,
advinhar passado
ou número de dado?
Jesus
Todo número é um.
Discípulo
Jesus, me ensina a ler
mãos,
búzios,
baralho,
olhos,
tarôt,
cristal,
oráculo
ou bula de remédio?
Jesus, me cura o tédio ?!
Como fazer milagre,
magia,
prestidigitação.
Andar sobre o mar
ou sobre o chão,
voar...
Aprender a somar,
montar equação.
E multiplicar pão
e peixes,
paus,
moedas...
Ah! Como saber ler pedras...?
Ricardo Lopes é professor, poeta e dramaturgo. Premiado com a peça “Mãe ou o antiédipo” no Concurso de Dramaturgia CarlosCarvalho, da Secretaria de Cultura da Preefeitura de Porto Alegre no ano de 2001.
Não deixe se postar o seu exercício ou poema para que eu o analise ou comente.
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Na próxima postagem realizarei um comentário sobre o exercício que desenvolvi acima.
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segunda-feira, 6 de junho de 2011
Poema com o uso da figura da repetição
Morrer de amor
(mas sem morrer)
Há uma dor maior que a dor de não te ver.
É a dor de ver-te, ver sem poder te ter.
Morrer de amor em frente ao amor, morrer
de dor de amor maior, maior que a própria dor
de amor, tanto amor que, para não doer,
o que se quer? Morrer. Morrer, morrer, morrer...
Mas da qual não se morre, não se morrer ao morrer,
só pra ainda mais doer. Doer, doer, doer...
Não morre pra doer. Pra doer de morrer
de dor de amor, morrer. Morrer, mas sem morrer.
(mas sem morrer)
Há uma dor maior que a dor de não te ver.
É a dor de ver-te, ver sem poder te ter.
Morrer de amor em frente ao amor, morrer
de dor de amor maior, maior que a própria dor
de amor, tanto amor que, para não doer,
o que se quer? Morrer. Morrer, morrer, morrer...
Mas da qual não se morre, não se morrer ao morrer,
só pra ainda mais doer. Doer, doer, doer...
Não morre pra doer. Pra doer de morrer
de dor de amor, morrer. Morrer, mas sem morrer.
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Mais Repetição
Há diferentes tipos de repetição. A repetição pura e simples é chamada de “epanalepse”. E é esta que temos visto até agora. Além do “quiasmo”, que é a repetição invertida. Exemplo: “No meio do caminho tinha uma pedra/tinha uma pedra no meio do caminho” (Drummond de Andrade).
A repetição de uma palavra no início de um verso e no início do seguinte é chamada de anáfora.
Exemplo:
“É preciso casar João
é preciso suportar Antônio,
é preciso odiar Melquíades,
é preciso substituir nós todos”
(“Poema da Necessidade”, Carlos Drummond Andrade)
E porque fez tanta coisa ou nada fez
Ou não multiplicou pães pra toda gente
Ou porque não tinha trinta e um dinheiros
Ou porque não havia vinho suficiente.
(De um Evangelho de Um Cristo, Ricardo Lopes)
A repetição de uma palavra no final de dois ou mais versos consecutivos chama-se epístrofe ou epífora.
“Não sou nada
Nunca serei nada
Não posso querer ser nada
Á parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”
(Poema de Tabacaria, Álvaro de Campos)
Reduplicação é a repetição de uma mesma palavra ou expressão duas vezes seguidas no mesmo verso.
“Não, não quero nada
Já disse que não quero nada”
(Lisbon Revisited, Álvaro de Campos)
O exemplo acima possui uma reduplicação e uma epífora ou epístrofe.
Já a repetição de uma palavra no início e no final deste mesmo verso é chamada de epanadiplose
“Nada me prende a nada
Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo”
(Lisbon Revisited, Álvaro de Campos)
“Não vim trazer a paz na Terra, vim
trazer espada, vim trazer a guerra”.
(De O Evangelho de um Cristo, Ricardo Lopes)
E a repetição no final de um verso e no início do seguinte é chamada de anadiplose.
Transformou àgua em vinho,
Vinho em vinagre”.
(Do Evangelho de um Cristo, Ricardo Lopes)
Observe como seria diferente se o poema acima, ao invés de se apresentar desta forma fosse escrito do modo abaixo:
“Transformou água em vinho
e este em vinagre”.
Ou, ainda, desta outra forma.
“Transformou água em vinho
e este último em vinagre”.
No entanto, como já dissemos, pouco importa o nome de tais repetições. O importante é saber de sua existência e como elas podem ser aplicadas.
Exercício
Escolha algumas formas de repetição. Procure construir um ou mais poemas com estas repetições
Exemplo:
Para não perder o hábito, uso, novamente, da expressão tão comum que é “eu te amo”.
1º exercício
Se eu te amo
Se eu te amo ? Eu ?
Se eu te amo ?
Eu ? Eu
não.
2º exercício
Eu não te amo
Eu não te amo. Não
Amo a ninguém. Não
Amo. Amo não Eu
Não amo nem eu não.
Amo não.
Tais exercícios não são necessamente poemas, mas exercícios. Servem para treinar a técnica, aprendendo a controlá-la, de modo poder utilizá-la quando necessário.
O importante é estar treinado de modo a que, quando nós quisermos escrever algo, possamos utilizá-las. Ou que as tenhamos de tal maneira apreendidas, de tal modo, que elas venham “naturalmente”.
Ricardo Lopes é professor, poeta e dramaturgo
Não deixe de postar o seu exercício e de indicar este blog a quem possa se interessar pelo mesmo.
Para um atendimento particular sobre a prática poética, entre em contato pelo telefone (Rio de Janeiro/Brasil) 0 21 22011212 / 021 94082693
e-mail riclopp@ig.com.br
A repetição de uma palavra no início de um verso e no início do seguinte é chamada de anáfora.
Exemplo:
“É preciso casar João
é preciso suportar Antônio,
é preciso odiar Melquíades,
é preciso substituir nós todos”
(“Poema da Necessidade”, Carlos Drummond Andrade)
E porque fez tanta coisa ou nada fez
Ou não multiplicou pães pra toda gente
Ou porque não tinha trinta e um dinheiros
Ou porque não havia vinho suficiente.
(De um Evangelho de Um Cristo, Ricardo Lopes)
A repetição de uma palavra no final de dois ou mais versos consecutivos chama-se epístrofe ou epífora.
“Não sou nada
Nunca serei nada
Não posso querer ser nada
Á parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”
(Poema de Tabacaria, Álvaro de Campos)
Reduplicação é a repetição de uma mesma palavra ou expressão duas vezes seguidas no mesmo verso.
“Não, não quero nada
Já disse que não quero nada”
(Lisbon Revisited, Álvaro de Campos)
O exemplo acima possui uma reduplicação e uma epífora ou epístrofe.
Já a repetição de uma palavra no início e no final deste mesmo verso é chamada de epanadiplose
“Nada me prende a nada
Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo”
(Lisbon Revisited, Álvaro de Campos)
“Não vim trazer a paz na Terra, vim
trazer espada, vim trazer a guerra”.
(De O Evangelho de um Cristo, Ricardo Lopes)
E a repetição no final de um verso e no início do seguinte é chamada de anadiplose.
Transformou àgua em vinho,
Vinho em vinagre”.
(Do Evangelho de um Cristo, Ricardo Lopes)
Observe como seria diferente se o poema acima, ao invés de se apresentar desta forma fosse escrito do modo abaixo:
“Transformou água em vinho
e este em vinagre”.
Ou, ainda, desta outra forma.
“Transformou água em vinho
e este último em vinagre”.
No entanto, como já dissemos, pouco importa o nome de tais repetições. O importante é saber de sua existência e como elas podem ser aplicadas.
Exercício
Escolha algumas formas de repetição. Procure construir um ou mais poemas com estas repetições
Exemplo:
Para não perder o hábito, uso, novamente, da expressão tão comum que é “eu te amo”.
1º exercício
Se eu te amo
Se eu te amo ? Eu ?
Se eu te amo ?
Eu ? Eu
não.
2º exercício
Eu não te amo
Eu não te amo. Não
Amo a ninguém. Não
Amo. Amo não Eu
Não amo nem eu não.
Amo não.
Tais exercícios não são necessamente poemas, mas exercícios. Servem para treinar a técnica, aprendendo a controlá-la, de modo poder utilizá-la quando necessário.
O importante é estar treinado de modo a que, quando nós quisermos escrever algo, possamos utilizá-las. Ou que as tenhamos de tal maneira apreendidas, de tal modo, que elas venham “naturalmente”.
Ricardo Lopes é professor, poeta e dramaturgo
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segunda-feira, 30 de maio de 2011
A Repetição em um Poema de Carlos Drummond Andrade e em um poema de Ferreira Gullar
Leia o poema “No meio do caminho”, de Carlos Drummond de Andrade, do livro “Alguma Poesia”. Observe como ele faz uso da repetição, repetindo a afirmação “No meio do caminho tinha uma pedra” e de como esta repetição dá ênfase e maior expressão àquela.
Os versos iniciais “No meio do caminho tinha uma pedra/tinha uma pedra no meio do caminho” são um “quiasmo” ou uma “inversão” que quer dizer isto mesmo. Uma repetição com os termos invertidos.
Depois Drummond repete o segundo verso, só que quebrado, constituindo uma “anáfora”, que a repetição de uma mesma expressão no início de dois versos diferentes com uma repetição de seu início, repetindo novamente o verso inicial.
Pouco importa que saibamos os nomes dos diferentes tipos de repetição. O que vale é compreensão do quanto a repetição, seja de forma extamente igual, ipsi literi, ou de forma variada, dá ênfase, expressão, alterando, inclusive o sentido do verso.
Qualquer dúvida, volte à postagem em que realizei uma análise deste poema de Carlos Drummond.
Considere agora o poema “Poema Brasileiro” (do livro “Dentro da Noite Veloz), de Ferreira Gullar. Este é constituído apenas da afirmação “No Piauí de cada 100 crianças que nascem/78 morrem antes de completar 8 anos de idade”.
Esta é repetida até o final do poema, exatamente igual, mas com uma quebra, formando diferentes versos com diferentes números de sílabas, terminando com o verso “antes de completar 8 anos de idade”, quatro vezes.
No caso deste poema, pode-se dizer que partindo de uma afirmação praticamente jornalística, embora impressionante, por meio da repetição e da quebra dos dois versos iniciais, com a formação de outros versos menores, Ferreira Gullar torna-a ainda mais impressionante, chamando atenção à mesma.
Deste modo, uma afirmação jornalística, entre as tantas que lemos todos os dias, que são vistas, até mesmo em função da sua repetição, como “normais”, passa a nos chamar atenção.
O caráter jornalístico é enfatizado tanto pelo tipo de informação que o poema traz quanto pelo fato de os números não serem escritos por exetenso, mas com a simbologia da matemática e da usualmente utilizada nos jornais.
A quebra dos versos inciais, formando outros versos tais como “No Piaíu/de cada 100 crianças/que nascem”, etc, enfatiza cada uma de suas palavras. O verso final, “antes de completar 8 anos de idade”, repetido como é, soa como um eco. Como se o leitor/ouvinte, depois de ler/ouvir a afirmação e o poema como um todo, ficasse com estes soando em sua consciência.
O poema se chama “Poema Brasileiro”, tanto porque Piuaí é um estado do Brasil quanto porque o que ocorre no Piauí ocorre no Brasil como um todo. Devido a isso, pode-se dizer que, neste caso, o Piauí funciona tanto como uma metonímia, na medida toma uma parte (Piauí) para se referir a um todo (Brasil) quanto uma metáfora, considerando Piauí como uma forma de se referir, na verdade, ao Brasil.
Procure poemas que se utilizem da repetição, sob as mais diferentes formas, e observe o quanto o uso desta reperição altera, de alguma forma, aquilo que se repete.
Os versos iniciais “No meio do caminho tinha uma pedra/tinha uma pedra no meio do caminho” são um “quiasmo” ou uma “inversão” que quer dizer isto mesmo. Uma repetição com os termos invertidos.
Depois Drummond repete o segundo verso, só que quebrado, constituindo uma “anáfora”, que a repetição de uma mesma expressão no início de dois versos diferentes com uma repetição de seu início, repetindo novamente o verso inicial.
Pouco importa que saibamos os nomes dos diferentes tipos de repetição. O que vale é compreensão do quanto a repetição, seja de forma extamente igual, ipsi literi, ou de forma variada, dá ênfase, expressão, alterando, inclusive o sentido do verso.
Qualquer dúvida, volte à postagem em que realizei uma análise deste poema de Carlos Drummond.
Considere agora o poema “Poema Brasileiro” (do livro “Dentro da Noite Veloz), de Ferreira Gullar. Este é constituído apenas da afirmação “No Piauí de cada 100 crianças que nascem/78 morrem antes de completar 8 anos de idade”.
Esta é repetida até o final do poema, exatamente igual, mas com uma quebra, formando diferentes versos com diferentes números de sílabas, terminando com o verso “antes de completar 8 anos de idade”, quatro vezes.
No caso deste poema, pode-se dizer que partindo de uma afirmação praticamente jornalística, embora impressionante, por meio da repetição e da quebra dos dois versos iniciais, com a formação de outros versos menores, Ferreira Gullar torna-a ainda mais impressionante, chamando atenção à mesma.
Deste modo, uma afirmação jornalística, entre as tantas que lemos todos os dias, que são vistas, até mesmo em função da sua repetição, como “normais”, passa a nos chamar atenção.
O caráter jornalístico é enfatizado tanto pelo tipo de informação que o poema traz quanto pelo fato de os números não serem escritos por exetenso, mas com a simbologia da matemática e da usualmente utilizada nos jornais.
A quebra dos versos inciais, formando outros versos tais como “No Piaíu/de cada 100 crianças/que nascem”, etc, enfatiza cada uma de suas palavras. O verso final, “antes de completar 8 anos de idade”, repetido como é, soa como um eco. Como se o leitor/ouvinte, depois de ler/ouvir a afirmação e o poema como um todo, ficasse com estes soando em sua consciência.
O poema se chama “Poema Brasileiro”, tanto porque Piuaí é um estado do Brasil quanto porque o que ocorre no Piauí ocorre no Brasil como um todo. Devido a isso, pode-se dizer que, neste caso, o Piauí funciona tanto como uma metonímia, na medida toma uma parte (Piauí) para se referir a um todo (Brasil) quanto uma metáfora, considerando Piauí como uma forma de se referir, na verdade, ao Brasil.
Procure poemas que se utilizem da repetição, sob as mais diferentes formas, e observe o quanto o uso desta reperição altera, de alguma forma, aquilo que se repete.
terça-feira, 24 de maio de 2011
Análise dos poemas do exercício com o uso da repetição
Poema
Eu (não) te odeio
Eu te odeio,
eu te odeio,
eu te odeio!
Eu te odeio,
eu te odeio,
eu te odeio?
Eu te odeio?
Eu? Eu? Eu?
Eu te amo.
Análise do poema
A expressão repetida é “eu te odeio”. Na primeira estrofe, esta expressão aparece três vezes, de modo a enfatizar a mesma. Isso é reforçado pela exclamação no último verso.
Na segunda estrofe, há novamente a expressão, mais três vezes. Também para dar ênfase, o que, de certa forma, é desnecessário, pois já se enfatizou na primeira estrofe. No entanto, no final desta estrofe, ao invés de uma exclamação, há uma interrogação,colocando em dúvida a afirmação que, até então, fora afirmada e enfatizada. Na terceira estrofe, a afirmação “eu te odeio” é repetida, só que com uma interrogação, novamente, enfatizando a dúvida. A dúvida é de tal ordem que o autor/narrador/personagem coloca em dúvida o seu próprio eu, ao afirmar, no segundo verso da terceira estrofe. Eu? Eu? Eu? Coloca em dúvida tanto o sentimento de ódio pela pessoa em questão (não explicitada) quanto seu próprio eu, sua existência, sua capacidade de saber se odeia ou não,etc.
No final do poema, revela-se o real sentimento do autor/narrador/personagem, que é o fato de ele amar e não odiar a pessoa em questão.
Observe o quanto a repetição enfatizou a afirmação “eu te odeio”. No entanto, observe também como o aumento do número de repetições diminui essa ênfase, bem como pode até mesmo colocar em dúvida a afirmação em quetão, ou simplesmente esvaziá-la.
Observe como a pontuação é importante, mudando o sentido dos versos que utilizam a mesma afirnação, pois uam coisa é dizer “Eu te odeio.”, outra é dizer “Eu te odeio!” e outra é dizer “Eu te odeio?”.
Observe que a afirmação “eu te amo” foi dita uma única vez. Isso pode significar que uma vez afirmado, o amor não precisa de ser enfatizado. Que sua afirmação, ou a afirmação constante por parte de alguém que ama outra pessoa, pode significar tanto que se ama quanto que não se ama.
Por fim, pode-se observar como amor e ódio se assemelham, no sentido de ser um sentimento por alguém que, de algum modo, levamos em consideração. No caso do poema acima, isso é enfatizado pela simetria forma, em número de sílabas, e no ritmo, das expressões “eu te odeio” e “eu te amo”, ambas com quatro silabas poéticas, e com uma acentuação tônica nos segundo e quatro versos.
O único momento em que esta simetria é quebrada é no segundo verso da terceira estrofe, que tem três sílabas poéticas.
A simetria também é quebrada na terceira estrofe, pois enquanto todas as outras possuem três versos, esta possui dois. O mesmo se dá na última estrofe, de um único verso.
O título, “Eu (não) te odeio” já indica que a expressão “eu te odeio” não significa “eu te odeio”, ou que sinifica tanto eu te odeio quanto o contrário.
Obs: contam-se as sílabas poéticas excluindo-se as sílabas posteriores à tônica da última palavra do verso.
Poema
Acalanto Fúnebre
Dorme, dorme, dorme
que a noite já chegou.
Dorne,dorme,dorme,
mesmo se sem sono.
Dorme, dorme, dorme,
veio a madrugada.
Dorme, dorme, dorme
que a vida não é nada.
Dorme, dorme, dorme
que o dia já veio.
Morre, morre, morre.
Análise do Poema
A repetição, no caso do poema acima, é da palavra dorme, o que ocorre comumente em diversos acalantos. Há ênfase no pedido “dorme” que é expresso três vezes no primeiro verso e no início de todas as estrofes,com exceção da última.
O segundo verso de todas as estrofes, com exceção da última, há explicação do por que se quer que o leitor/ouvinte, etc durma. Sobre isso, há que se observar que há tanto motivos banais, como “que a noite já veio”, quanto motivos contraditórios ou absurdos, tais como “mesmo que sem sono”, “que o dia já veio” (como se se dorme quando é noite e não quando é dia?). Ou ainda, porque “a vida não vale nada”.
E, se a vida não vale nada, pedindo que se durma, de noite, de dia, de madrugada, ocorre que o pedido para que se durma se assemelha com um pedido para que não se viva, ou que se morra. A isso, deve-se acrecentar a semelhança entre dormir e morrer.
Deve-se observar que o título “Acalanto Fúnebre”, já enfatiza esta semelhança entre dormir e morrer.
A conclusão é “morre,morre, morre”.
Observa a semelhança on número de sílabas e na acentuação entre os veros “dorme, dorme, dorme” e “morre, morre, morre”.
Talvez eu pudesse ter terminado com “dorme, dorme, morre”.
Qual seria o final melhor?
De qualquer modo, independente da qualidade deste poema como um todo, o fato é que o recurso da repetição não teve a mesma importância que no primeiro poema.
Poema
Vida em Resumo
Dorme, dorme, dorme.
Acorda, acorda, acorda.
Dorme, acorda, dorme.
Acorda, dorme, acorda.
Dorme, acorda.
Dorme, acorda, dorme, acorda, dorme, acorda.
Dorme, dorme, dorme, dorme, dorme ....
Análise do Poema
Neste poema, a repetição é das palavras dorme e acorda. Esta se parecem, conforme indica o título do poema, “Vida em Resumo”, um resumo da vida. Como se a vida se resumisse apenas nisso em acordar e dormir, dormir e acordar. E, no final, dormir, só que para sempre, quando se dorme para sempre, conforme é indicado no último verso “Dorme, dorme, dorme, dorme, dorme... “ com reticências, indicando a continuida desde dorme.
Relendo este poema creio ele ficaria melhor como está abaixo
Vida em Resumo
Dorme, dorme, dorme.
Acorda, acorda, acorda.
Dorme, acorda, dorme.
Acorda, dorme, acorda.
Dorme, acorda.
Dorme, acorda.
Dorm’ e acorda dorm´e acorda dorm´e acorda dom´ e ...
Dorme, dorme, dorme, dorme ....
[ainda: substituindo a última estrofe por
dorme, dorme, dorme, dorme
e nunca mais acorda.]
Qual, na sua opinião, seria o melhor?
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Eu (não) te odeio
eu te odeio,
eu te odeio!
Eu te odeio,
eu te odeio,
eu te odeio?
Eu te odeio?
Eu? Eu? Eu?
Eu te amo.
Análise do poema
A expressão repetida é “eu te odeio”. Na primeira estrofe, esta expressão aparece três vezes, de modo a enfatizar a mesma. Isso é reforçado pela exclamação no último verso.
Na segunda estrofe, há novamente a expressão, mais três vezes. Também para dar ênfase, o que, de certa forma, é desnecessário, pois já se enfatizou na primeira estrofe. No entanto, no final desta estrofe, ao invés de uma exclamação, há uma interrogação,colocando em dúvida a afirmação que, até então, fora afirmada e enfatizada. Na terceira estrofe, a afirmação “eu te odeio” é repetida, só que com uma interrogação, novamente, enfatizando a dúvida. A dúvida é de tal ordem que o autor/narrador/personagem coloca em dúvida o seu próprio eu, ao afirmar, no segundo verso da terceira estrofe. Eu? Eu? Eu? Coloca em dúvida tanto o sentimento de ódio pela pessoa em questão (não explicitada) quanto seu próprio eu, sua existência, sua capacidade de saber se odeia ou não,etc.
No final do poema, revela-se o real sentimento do autor/narrador/personagem, que é o fato de ele amar e não odiar a pessoa em questão.
Observe o quanto a repetição enfatizou a afirmação “eu te odeio”. No entanto, observe também como o aumento do número de repetições diminui essa ênfase, bem como pode até mesmo colocar em dúvida a afirmação em quetão, ou simplesmente esvaziá-la.
Observe como a pontuação é importante, mudando o sentido dos versos que utilizam a mesma afirnação, pois uam coisa é dizer “Eu te odeio.”, outra é dizer “Eu te odeio!” e outra é dizer “Eu te odeio?”.
Observe que a afirmação “eu te amo” foi dita uma única vez. Isso pode significar que uma vez afirmado, o amor não precisa de ser enfatizado. Que sua afirmação, ou a afirmação constante por parte de alguém que ama outra pessoa, pode significar tanto que se ama quanto que não se ama.
Por fim, pode-se observar como amor e ódio se assemelham, no sentido de ser um sentimento por alguém que, de algum modo, levamos em consideração. No caso do poema acima, isso é enfatizado pela simetria forma, em número de sílabas, e no ritmo, das expressões “eu te odeio” e “eu te amo”, ambas com quatro silabas poéticas, e com uma acentuação tônica nos segundo e quatro versos.
O único momento em que esta simetria é quebrada é no segundo verso da terceira estrofe, que tem três sílabas poéticas.
A simetria também é quebrada na terceira estrofe, pois enquanto todas as outras possuem três versos, esta possui dois. O mesmo se dá na última estrofe, de um único verso.
O título, “Eu (não) te odeio” já indica que a expressão “eu te odeio” não significa “eu te odeio”, ou que sinifica tanto eu te odeio quanto o contrário.
Obs: contam-se as sílabas poéticas excluindo-se as sílabas posteriores à tônica da última palavra do verso.
Poema
Acalanto Fúnebre
Dorme, dorme, dorme
que a noite já chegou.
Dorne,dorme,dorme,
mesmo se sem sono.
Dorme, dorme, dorme,
veio a madrugada.
Dorme, dorme, dorme
que a vida não é nada.
Dorme, dorme, dorme
que o dia já veio.
Morre, morre, morre.
Análise do Poema
A repetição, no caso do poema acima, é da palavra dorme, o que ocorre comumente em diversos acalantos. Há ênfase no pedido “dorme” que é expresso três vezes no primeiro verso e no início de todas as estrofes,com exceção da última.
O segundo verso de todas as estrofes, com exceção da última, há explicação do por que se quer que o leitor/ouvinte, etc durma. Sobre isso, há que se observar que há tanto motivos banais, como “que a noite já veio”, quanto motivos contraditórios ou absurdos, tais como “mesmo que sem sono”, “que o dia já veio” (como se se dorme quando é noite e não quando é dia?). Ou ainda, porque “a vida não vale nada”.
E, se a vida não vale nada, pedindo que se durma, de noite, de dia, de madrugada, ocorre que o pedido para que se durma se assemelha com um pedido para que não se viva, ou que se morra. A isso, deve-se acrecentar a semelhança entre dormir e morrer.
Deve-se observar que o título “Acalanto Fúnebre”, já enfatiza esta semelhança entre dormir e morrer.
A conclusão é “morre,morre, morre”.
Observa a semelhança on número de sílabas e na acentuação entre os veros “dorme, dorme, dorme” e “morre, morre, morre”.
Talvez eu pudesse ter terminado com “dorme, dorme, morre”.
Qual seria o final melhor?
De qualquer modo, independente da qualidade deste poema como um todo, o fato é que o recurso da repetição não teve a mesma importância que no primeiro poema.
Poema
Vida em Resumo
Dorme, dorme, dorme.
Acorda, acorda, acorda.
Dorme, acorda, dorme.
Acorda, dorme, acorda.
Dorme, acorda.
Dorme, acorda, dorme, acorda, dorme, acorda.
Dorme, dorme, dorme, dorme, dorme ....
Análise do Poema
Neste poema, a repetição é das palavras dorme e acorda. Esta se parecem, conforme indica o título do poema, “Vida em Resumo”, um resumo da vida. Como se a vida se resumisse apenas nisso em acordar e dormir, dormir e acordar. E, no final, dormir, só que para sempre, quando se dorme para sempre, conforme é indicado no último verso “Dorme, dorme, dorme, dorme, dorme... “ com reticências, indicando a continuida desde dorme.
Relendo este poema creio ele ficaria melhor como está abaixo
Vida em Resumo
Dorme, dorme, dorme.
Acorda, acorda, acorda.
Dorme, acorda, dorme.
Acorda, dorme, acorda.
Dorme, acorda.
Dorme, acorda.
Dorm’ e acorda dorm´e acorda dorm´e acorda dom´ e ...
Dorme, dorme, dorme, dorme ....
[ainda: substituindo a última estrofe por
dorme, dorme, dorme, dorme
e nunca mais acorda.]
Qual, na sua opinião, seria o melhor?
Não deixe postar um comentário ou seu poema e de indicar este blog para quem possa se interessar.
se você quiser um atendimento particular sobre como analisar e escrever poemas, entre em contato telefones (Rio de Janeiro) 0 21 22011212 / 0 21 94082693 e-mail riclopp@ig.com.br
Exercícios com o uso da Repetição
Eu (não) te odeio
Eu te odeio,
eu te odeio,
eu te odeio!
Eu te odeio,
eu te odeio,
eu te odeio?
Eu te odeio?
Eu? Eu? Eu?
Eu te amo.
Acalanto Fúnebre
Dorme, dorme, dorme
que a noite já chegou.
Dorne,dorme,dorme,
mesmo se sem sono.
Dorme, dorme, dorme
que veio a madrugada.
Dorme, dorme, dorme
que a vida não é nada.
Dorme, dorme, dorme
que o dia já veio.
Morre, morre, morre.
Vida em Resumo
Dorme, dorme, dorme.
Acorda, acorda, acorda.
Dorme, acorda, dorme.
Acorda, dorme, acorda.
Dorme, acorda.
Dorme, acorda, dorme, acorda, dorme, acorda.
Dorme, dorme, dorme, dorme, dorme ...
Eu te odeio,
eu te odeio,
eu te odeio!
Eu te odeio,
eu te odeio,
eu te odeio?
Eu te odeio?
Eu? Eu? Eu?
Eu te amo.
Acalanto Fúnebre
Dorme, dorme, dorme
que a noite já chegou.
Dorne,dorme,dorme,
mesmo se sem sono.
Dorme, dorme, dorme
que veio a madrugada.
Dorme, dorme, dorme
que a vida não é nada.
Dorme, dorme, dorme
que o dia já veio.
Morre, morre, morre.
Vida em Resumo
Dorme, dorme, dorme.
Acorda, acorda, acorda.
Dorme, acorda, dorme.
Acorda, dorme, acorda.
Dorme, acorda.
Dorme, acorda, dorme, acorda, dorme, acorda.
Dorme, dorme, dorme, dorme, dorme ...
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